So (very very very) pleased to meet you

A palermice em que está envolto o momento em que conhecemos alguém por quem nutrimos uma grande admiração, é extensa e proporcionalmente ridícula à emoção sentida.
A voz treme-nos e falha e, qual língua nativa ou estrangeira que dominamos, sai tudo num dialecto que roça o sotaque do Schwarzenegger cruzado com o do Rei do Gado. 
Uma tormenta, um susto de atrapalho. É assim que consigo resumir um desses meus momentos.

'Olá, boa tarde...', digo eu num meio sussurro e um sorriso tímido.
'Boa tarde...', e ele devolve-me o sorriso.

Estendo o livro - 'o' não, 'os livros' - sim, como fã trouxe os que tinha lá em casa e até deveriam ser mais! - e ele assina enquanto os meus pés, sem se mexerem dão saltinhos e a minha garganta dá gritos histéricos - em modo silencioso.

Abraço-me aos livros autografados e devolvo-os ao saco de papel preto a desfazer-se por completo graças à chuva torrencial que apanhei desde o metro à Biblioteca Municipal de Matosinhos. Acrescento, só para contribuir para o cenário de catástrofe, que estou com o cabelo a pingar água e a calças estão completamente encharcadas entre a ganga normal e a ganga escura.

- Muito obrigada, gostei muito do livro, li-o hoje na viagem de comboio...
(Tás louca? Diz lá que leste à pressa porque estavas curiosa! Assim até parece que saltaste capítulos e que não leste nada!)
Adoro a sua escrita, os seus livros, o blog, as suas crónicas...até no facebook  gosto das coisas que partilha...É tudo muito...
(uma branca agora, não sei o que dizer! ..pânico, pânico, adjectivo, adjectivo, giro? espectacular? criativo? lindo? fixe? Fogo, ele está a olhar para mim fixamente, e agora? adjectivo!! bacana? Estás maluca, ainda vai pensar que te estás a meter com ele! Focus, focus,  focus!...adjectivo, adjectivo!!)
 ...muito interessante!'
(O quê?! Não! A sério que te saiu isso? ...e, com tanto suspense, até fiquei com os olhos a brilhar e a parecer uma stalker. Como dizer isto sem parecer doente, ou desorganizada das ideias? Morri de vergonha, quero um saco para me esconder).
-Muito obrigado, ainda bem que gostou...', disse ele com outro sorriso mais simpático ainda do que o primeiro. Adorável; nem revirou os olhos por ter uma tolinha à frente dele que parecia estar a aprender a falar...

Aceno-lhe e sorrio-lhe e vou-me chegando para a outra ponta da sala, onde pego no telemóvel, envio mms à Deia para lhe mostrar o registo do evento - e, claro, ela dá o grito de euforia de resposta.

Aqui vos confesso, num misto de emoção que ainda perdura: eu conheci o Edson Athayde!
Conheci o que eu chamo de 'meu guru' (em brincadeira, 'tá?) sob uma capa de admiração e nervosismo que pode ter sido confundida com histerismo, ou distúrbio mental precoce. E com certeza, foi ...é que não dei hipótese!

Mas já que agora estamos aqui numa mesa de café calminha e sossegada eu vou-lhe dizer o que não me saiu.

Sabe Edson, se eu tivesse tido coragem de ser 'eu' e não um 'eu-emocionado', ter-lhe-ia dito  que:
- as suas palavras dão sentido a muita coisa do que nos rodeia e poucos sabem parar para admirar o que diz e o que escreve - e tenho pena; 
- comunicação, marketing e publicidade são áreas feitas de génios loucos e de gente cheia de sonhos de criar impossíveis; capazes de tocar um coração sem serem cirurgiões, de saberem o que as pessoas querem sem serem videntes, de saberem ler nas entrelinhas e verem o que parece invisível; nem todos têm o dom mas o Edson tem-no; 
- a sua forma de explicar como sonhar sonhos fantásticos é necessário, pois, tal como numa crónica sua diz 'segundo Freud, nós somos o que sonhamos. por isso seremos tanto maiores quanto for o que projectamos. se sonhar pequeno, será insignificante. se nada sonhar, nada será.', de certo modo se eu tinha o sonho de o conhecer, ainda bem que o tive;
- o seu dom para roubar sorrisos devia ter acções na bolsa;
- é importante tirarmos fotografias eternas mas tentarmos ao mesmo tempo deixar uma pegada neste mundo, feita do que somos e do tamanho que conseguirmos (mesmo eu calçando um mísero 37).

Edson, é um prazer 'reler circunstâncias da vida' com a simplicidade própria de quem sabe dar valor às pequenas coisas da vida, que nem coisas são.
Obrigada.

E seria uma pessoa muito mais de 'bem' comigo própria, aparentemente muito mais sã, se lhe tivesse dito isto, em vez do momentinho tolo que lhe ofereci.
(Ele deve saber, assim o espero. Se não souber, espero que um dia venha cá ter ao blog - por milagre - e descubra).



Já agora, ficam a saber que 'O Rapaz das Fotografias Eternas' é o primeiro romance de Edson Athayde e é um livro de que gostei muito (e recomendo); procurem-no numa livraria perto de vocês. 

2 comentários:

Unknown disse...

Obrigada pelo conselho, vai para a lista!
heheh nunca sai como planeado e desejado, mas é que nunca mesmo. kiss

Sr. Humberto disse...

Ele há admirações que só o próprio consegue compreende, não é Ana Mendes? :)
Mas até fui lá à chuva contigo.