"desenhar palavras difusas, aceleradas num turbilhão de mil e um pensamentos que viajam mais depressa que o som" ou simplesmente "escrevo"


(Não sei se sou eu que escrevo. Não sei se és tu que,através de mim,tentas dizer ao Mundo tudo aquilo que em vida não conseguiste dizer ou deixaste inacabado. Não sei porque escrevo tanto, não sei porque leio tanto, ou como penso e sinto tanto. Não sei.)
E tudo isto porque vivo numa ansiedade constante,numa tormenta infindável de palavras que se atropelam na minha cabeça; palavras que correm velozes,muito mais rápido que a esferográfica que as tenta escrever.
Ideias absurdas, pensamentos irónicos, críticos, românticos, nostálgicos, que se confundem e me provocam lágrimas, gargalhadas ou silêncios onde tudo acontece sem ser preciso falar. Por vezes é incómoda esta mistura de mundos, estes silêncios que não me deixam dormir e todas as palavras a rodopiar velozmente à minha volta, a gritarem para eu as imortalizar no papel, a insistirem para eu as escrever num qualquer papel.
E este fascínio pelas palavras? O simples soletrar de uma palavra, ler poesia em "slow motion", o saborear cada palavra como se tudo pudesse caber lá dentro e como se o mundo pudesse acabar no instante seguinte e nada mais pudesse ser dito.
Tenho este medo terrível de me esquecer de me segurar; de cair de repente e não poder mostrar a ninguém as minhas palavras e tudo aquilo de que sou feita. Quando contenho a respiração, um turbilhão de ideias assalta-me e um esforço para não gritar no meio desta gente toda que passa por mim na rua, sobrenatural.
Esta gente não sabe quem sou, não sabe que eu existo, não sabe que palavras trago em mim e como as guardo em mim.
Este sol de fim de tarde cor de laranja, perpassa a janela e bate-me ao de leve na face...e eu pouso a esferográfica e olho em volta; todos me conseguem ver, mas ninguém vê a escritora.

19 comentários:

Sr. Humberto disse...

Pelo menos as primeiras palavras sei a quem se dirigem...
As minhas teclas não se comparam à tua caneta portanto, faz-se uso do Google:

"Sailing down the river alone
I've been trying to find
My way back home
But I don't believe in magic
Life is automatic
But I don't mind being on my own"

Oasis - Listen up

luís disse...

às vezes nós gostamos de falar muito para esconder aquilo que podemos dizer em poucas palavras.

Era um chocolate, por favor*

Fábula disse...

a internet tem destas coisas... pensa sobre isto: aqui ninguém te consegue ver, mas todos vêem a escritora! =)

pronto, disse. sou uma estranha num café, a meter-me numa conversa q ñ me diz respeito. inspiro, olho a dona do café e digo-lhe "e então? esse café vem ou ñ?"

Anónimo disse...

"Siehst Du mich im Licht?" [consegues ver-me à luz?] (Lacrimosa, 1998)

Processos internos, em eterno equilíbrio e desiquilíbrio, entre cognições e emoções que apenas são captados pela simplicidade das palavras. Paisagens sensitivas, introceptivas e exteroceptivas de uma existência sublime dificílmente dizível! Quero exprimir, mas apenas mordo os lábios, sangrando-os... engulo o sangue e o seu significado. Desorientado com tanto cá dentro mas tão impossível de dar nome - retenho! Nunca uma palavra, uma frase, um texto, um livro, será suficiente... sou mais um pouco do que o que posso dizer... mas ninguém sabe.

Ah! as palavras, as palavras...

Vejo-as como notas musicais, para compor uma melodia - que apesar de fazer sentido, nota a nota, renasce como um todo, uma paisagem...a minha paisagem, que se situa no espaço transicional, entre mim e o resto. Podia ser qualquer palavra. Mas não. É esta mesmo que exprime todo um mundo sensorial - um microcosmos meu de representações e emoções - que, como associação livre, em conjunto com outras palavras, revela a forma como organizo a minha existência, a minha obra... a banda sonora da minha vida!

Ser em tudo - ser nos outros - ser em mim - fingir que sou - o símbolo - a palavra: condensação simbólica da experiência. Saboreá-las é processá-las e processá-las é integrá-las... são minhas e só fazem verdadeiro sentido em mim!

Wakewinha disse...

Sabes, por mais anos que vivamos não vamos nunca conseguir mostrar a todos de que somos feitos, a nossa essência! Por isso crê que o importante é que os que te rodeiam saibam quem és, e com que linhas te bordas. As palavras são o teu escudo, são a tua maquilhagem, são o teu vestido de gala... Elas fazem brilhar o que de mais belo cresce em ti, e só por isso vale a pena que continues a desenhar palavras difusas, aceleradas num turbilhão de mil e um pensamentos que viajam mais depressa que o som!!! =)

Anónimo disse...

Mostrar aos outros tudo que temos em nós é sempre complicado.

Nem sempre compreendem qual o verdadeiro sentido que escondem as palavras.

Mas se calhar também isso faz parte da vida. A convivência com os outros e a cumplicidade que por vezes uma pequena troca de palavras supõe.

Ainda há capuccinos?

b. disse...

as palavras vão e vêm, a escritora vai crescendo e deliciando os que a vêm como tal.

:)

NR disse...

Gostei! :D
Bjos

Midas disse...

Difícil é alcançar o simples. É essa a luta.
Apenas convictos de tal princípio podemos ambicionar a persistência.
Já agora… conseguem-te ver? E tu o que vês?
Pouco interessa. De nada nos serve observar se não somos capazes de interpretar o observado. Só os diferentes tipos de conhecimento nos permitem utilizar correctamente as nossas utensilagens mentais.
É tudo.

Luís Filipe C.T.Coutinho disse...

Somos apenas aquilo que sentimos. Enquanto discernirmos o que realmente sentimos, temos lugar. A partir do momento que nos falhem os passos da sombra está o caso ma parado.

beijos

Anónimo disse...

Entre o teu post anterior e este, ambos bastante existênciais, vislumbra-se um conflito entre anonimato e reconhecimento, que, de certa forma, te traz alguma inquietude...
Tens fome, mas não sabes bem o que queres comer, e quem te alimenta parece (enfatizo, parece) não ser suficiente para te sentires compensada!
Como midas refere, é tudo uma questão de observação, eu diria mesmo, de apercepção, do que se passa à tua volta. Se calhar estás melhor do que pensas, tás é a observar com uns óculos que não te favorecem... acho...
(Se fui demasiado instrusivo ou desadequado, não hesites e apaga este comment)
Gostei do blog e vou voltar: Era uma bica curta, por favor!

Ana, Dona do Café disse...

claro que nao substrata... :)
Nao se trata de nenhuma "fase", já é algo com que me habituei... Tenho duas faces, simplesmente isso. Quanto a observaçoes que faço ou se me observam?...sim fazem-no,mas será que conseguem ver para além de mim, ou só o superficial? É disto que falo. "De quem me olha mas não me vê".

*
Uma bica curta, um cafézinho, um capuccino... :)

Anónimo disse...

Já há algum tempo que não passava por cá...
Resta-me dizer que o café estava optimo como sempre
Jinhos ternos

Anónimo disse...

palavras, palavras... algo que se usa no dia a dia mas que por vezes sao desnecessarias, valem menos que retratos e sentimentos... a interiorizaçao de objectos em sons... como se de algo mais importante a face do universo é utilizado e sem elas nao se fazia nada neste mundo. e e com elas que estou a fazer um belo dum texto (ou n) a minha amiga ana. sei k n apareço ca a muito, as vezes da-me pra isto e é melhor aproveitar a inspiraçao da escrita pq isto as 5 da matina em casa, ainda por cima vindo da night, n aparece sempre... bem por aqui me fico com este pequeno momento de parlapié que sabe sempre bem =)
Beijocas e queria um cafe especial da casa eheh

ps:desculpa a todos os utilizadores deste belo cafe pelo erro do 'aparece' =P

Ana, Dona do Café disse...

eu apaguei o post que tinha o erro :P LOL
* beijinho e bem vindo Henrique :)

Anónimo disse...

Até que enfim Ana que te volto a encontrar...
Tinha-te perdido.
Beijos

Anónimo disse...

nada melhor que o puxar dum cigarro enquanto se aquece a mão com a chávena do café,nos fins das tarde dourados, acompanhado por amigos, isto imagine-mos no cartola em coimbra ou na Brasileira no largo do camoes em lisboa(na mesa ao lado do pessoa)!quem passa o que vê?uns amigos a falarem, alguem no meio de amigos, amigos a beberem café, chão da calçada ou so o taxi ao fundo da rua...não somos o que queremos ser, as vezes nem somos o que queremos que vejam, nem tão pouco somos sempre a mesma pessoa, somos sim(ou talvez) o conjunto das simples coisas de que gostamos,dos pequenos gestos que fazemos, dos silêncios que impomos e dos amigos que escolhemos,o resto...as novidades...material para a proxima pessoa que iremos ser...talvez pa semana!querer que vejam a escritora é querer que leiam o que escreve, com olhos de quem diz bem ou mal!ou no meu caso..so porque esceve bem!

um café e uma água!se faz favor

Anónimo disse...

olá,desde já muito obrigado pelo comentário e pela apreciação do meu space. eu não pude deixar de partilhar a experiencia que tive na primeira vez que li alguns posts do teu blog, portanto resolvi colocar o link no meu space.gostei bastante do teu blog porque posso esperar qualquer coisa dum post pelo que eu já vi.posso rir,ficar a pensar na via,etc.lol.espero que continues a ir visitar o meu space para talvez te divertires um pouco que eu vou continuar aqui a vir beber um café. beijinhos

Anónimo disse...

'Tenho este medo terrível de me esquecer de me segurar; de cair de repente e não poder mostrar a ninguém as minhas palavras e tudo aquilo de que sou feita.' - Tão bonito, Ana... Um beijo enorme para ti, escritora.