Após deliberações várias, dores de cabeça e repetidas acções de 'um-dó-li-tá', o vencedor do passatempo Mesa de Café é [suspense...rufar dos tambores] Bagaço Amarelo com o texto/crónica 'Segredos'.
Muitos parabéns e aqui está a sua participação:
segredos
A todos os que participaram o meu sincero agradecimento, só por o terem feito; já soube tão bem saber-vos desse lado. Obrigada.A mulher que eu amava vestia-se sempre de vermelho menos nos dias em que eu a via, em que se vestia de azul. Também me dizia segredos ao ouvido menos nos dias em que eu a via, em que se mantinha muda como as pedras do mar. As pedras do mar são mudas como as pedras do passeio mas a sua mudez não é igual. As pedras do mar são felizes e as pedras do passeio são tristes. Como todos os amantes sabem, só a felicidade ou a tristeza sabem distinguir os silêncios do mundo.Nos dias em que a mulher que eu amava se vestia de vermelho e me dizia segredos ao ouvido costumávamos passear por aí de mão dada. Umas vezes em cidades de edifícios sem janelas nem varandas, onde nos beijávamos entre os segredos que ela me contava; outras vezes fazíamos piqueniques numa floresta de árvores suspensas no ar, as quais eu contemplava ao som dos mesmos segredos.Nos dias em que ela se vestia de azul e se mantinha muda estávamos sempre numa mesa de café, eu numa e ela noutra. E como ela não me contava nenhum segredo ao ouvido eu tinha que os inventar. O meu maior segredo era que a amava, mas esse nunca confessei a ninguém, nem sequer aos papéis onde escrevia sobre ela. Aos meus papéis fui contando as histórias dos dias em que não a via, e foi neles que descobri que nesses dias ela se vestia de vermelho e era feliz como as pedras do mar.
2 comentários:
bonito texto
Gostei bastante! :)
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