no céu dos "miaus"...

Tinha eu seis anos quando apareceste dentro de uma caixinha com ar de quem ia me morder, de olhos amarelos a olhar para mim com medo. Olhei-te desconfiada, passei-te a mão no pelo branquinho e cinzento e tu fechaste os olhos devagarinho e eu soube aí que ias ser minha ouvinte e minha companheira.

Ensinei-te que o armário da cozinha não provocava vertigens, que as portas se conseguiam abrir com a patinha mas aprendeste sozinha a ajudar-me com a tua meiguice quando vinhas à noite de mansinho deitar-te ao meu colo quando via televisão.
Na casa antiga davas corridas em "sprint" da cozinha para o meu quarto, que ninguém, nem mesmo eu, percebíamos porquê(mas que nos faziam rir), tinhas medo de balões, do aspirador, do meu secador e, inexplicavelmente adoravas ficar horas a cheirar e a encostar-te às marradinhas nos sapatos malcheirosos de pele do meu pai, aliás tu tinhas uma relação amor/ódio ao meu pai (eras capaz de o arranhar quando ele te tentava dar uma festa, mas se vias que ele se ia embora começavas a miar alto para ele voltar!)
Eras mesmo mazinha para com quem não conhecias e quem não estivesse avisado do teu mau feitio saía lá de casa com uma arranhadela certa no braço; atacavas imediatamente quem te fizesse festinhas na barriga, odiavas isso...
Tinhas um miado bonito e eu falava contigo e eu acredito que me percebesses quando te respondia. Sabia os teus truques, sabia as tuas manias, e acredito que sabias que o teu nome era Tica e que eras uma gata.
Mas não sabes que eu agora te estou a escrever em lágrimas minha pequenina, porque quando partiste eu não estava lá para me despedir de ti e para te cantar baixinho como fazia quando adormecias no meu quarto e me mimavas por eu estar triste.
Não eras só uma gata, é por isso que acredito que não estou demente a escrever para a minha gata que morreu hoje de manhã longe de mim, já doentinha e já com aproximadamente 15 anos; estou a escrever para uma companhia que tinha quando as fadas más e os monstros me aterrorizavam e eu acreditava que ela estava ali para me confortar e me proteger...
Os monstros e as fadas más continuam a existir...mas, eu sei que no meu coração, que agora só consegue chorar, serás sempre a minha amiga dos silêncios, do mundo do meu quarto e só tu sabes todos os meus segredos...
I will miss so much...

17 comentários:

Wakewinha disse...

Há pessoas que custam a acreditar na ligação de carinho que poderá existir entre um animal e uma pessoa! Especialmente quando os primeiros se expressam tão bem... Tendemos a falar deles como se de um membro da família se tratasse! E os outros olham-nos como se fóssemos loucos!

Sabes que mais do que muita gente compreendo esta tua dor e a partilho contigo! Sabes que eu sou de me entregar muito mais aos animais não-humanos (não nos esqueçamos que também somos verdadeiros animais), e que me custa imenso perceber que não está ao meu alcance lutar pela felicidade de todos eles!

Agora que ela partiu, e por enorme que seja a dor (eu sei o que isso é, perdi o meu melhor amigo após 16 anos de momentos partilhados com fervor - lembras-te?), mas a cada lágrima que derramei por ele na altura da sua morte, e que ainda hoje teimam em cair quando me recordo das coisas que aprendi com ele, lembro que nada pode destruir a amizade inabalável que construí com ele, e que apesar da sua ida me doer muito, os anos e as vivências juntos valem por qualquer sofrimento.

Por isso, Ana, a Tica vai estar sempre contigo, com as unhas bem cravadas no teu coração!

[Aliás, acho que já tens nome para a gatita virtual, né? =)]

Beijo grande e muita força*

Delírio da Loirinha disse...

Querida Amiga compreendo a tua dor!
Eu tb tenho duas gatinhas que são a minha felicidade...
Fica a boa recordação do tempo que passaram juntas...
Beijinhos doces...

Anónimo disse...

Lamento... Sei o que estás a passar. Tambem perdi o meu bichinho ha pouco tempo. É muito dificil... Força e lembra-te de todos os bons momentos que passaste com ela... Vai-te animar um bocadinho.

Rosa Cueca disse...

Passou a ponte do arco-íris *

Luís Filipe C.T.Coutinho disse...

Um beijo e um abraço.

Anónimo disse...

Se te consola agora tens "um burro" em casa a tentar fazer a mma x....um poukinho maior e mais xato, mas plo menos não é psicopata, n arranha os teus amigos (a n ser q sejam bons =P)e tb gosta mto de ti*

c.r. disse...

acredita quando digo que me emocionei muito ao ler este texto...compreendo...e lamento...
tenho um gatinho que tem agora 15anos...desde os meus 7 que me acompanha...sei que ele nos vê como a sua família, e sim, ele faz parte da nossa...

força...
bjs

SG disse...

Ana
Tb já tive uma gatinha chamada Tica. Morreu ainda jovem, atropelada, há cerca de 17-18 anos.
O irmão, chamava-se Simplício e desapareceu danoite para o dia, durante umas férias, no Algarve, há cerca de 14-15. No ano seguinte,havia imensos (uns 7 ou 8)gatinhos iguais a ele e à Tica que rondavam a casa.
Os genes da Tica e do Simplício permanecem no Algarve.

*****

NR disse...

:(
Bjos

magnolias_forever disse...

Sinto muito, fiquei emocionada ao ler as tuas palavras! Tenho um gatinho lá em casa e a certeza de que quando ele partir ficarei também com o coração partido. Mas não existem palavras que confortem, apenas as lembranças!
É mm assim a lei da vida!
Beijinho e força!

Anónimo disse...

Eu n sei o q faria s a minha mais q tdo, leia-se Preta (akela q t andou ai a xatear a cabeça por casa na altura da keima, remember?), partisse. Sei q é inevitável, mas de momento só de pendar nisso sinto um arrepio na espinha...
***

Anónimo disse...

(Pensando: Qualquer dia é a Fofa... Ele tem o quê? 13, 14 anos... está cada vez mais quieta, já não caça moscas, já não se pendura nos cortinados...Ainda bem que já começamos a mentalizar a Diana para o facto, para o choque não ser tão grande para ela.)
- Ana... Podes chegar aqui? É para te dar um abraço...

Ana, Dona do Café disse...

Um beijinho grande para todos pelo apoio que me estão a dar...
Já estou um bocadinho melhor, com o tempo a dor vai passar e as saudades vão-se transformando em recordações boas da Tica.

Obrigada pelas palavras, pelos abraços, pela preocupação...por tudo,
Ana

Anónimo disse...

Já ando há tempos para passar por aqui, as referências eram boas e a tua presença assídua nos cantinhos dos meus amigos Zuco e Vaskíssimo. Resolvi hoje, no meio do trabalho enfadonho que tenho para fazer, passar por aqui para me distrair. E não é que, logo hoje, te encontro triste... e creio saber quão triste te encontras. Perdeste uma amiga, um membro da família, mas ela estará contigo enquanto te lembrares dela... isso é certo! E nas tuas memórias estarão sempre presentes os momentos felizes que passaram juntas. E ela, de erteza que morreu feliz, feliz por ter um lar que tantos outros amigos não têm, ou do qual são despejados por quem não tem escrúpulos ou sentimentos; feliz por ter sido alvo de carinho; por ter sido importante... feliz porque te cativou, assim como a cativaste a ela também... deixo-te um beijo, neste dia em que escolhi passar por aqui e te encontrei... assim!

Ana, Dona do Café disse...

lolol, eu reparei....:P seu depravado Llol *

Anónimo disse...

Só quem gosta muito de animais compreende aquilo que sentes.

Há uns anos o meu gato caiu da varanda dum 3º andar, tinha apenas 2 meses... não, eles não caem SEMPRE de pé com as 4 patas, isso é treta... o meu black&decker ficou com múltiplas fracturas e esteve quase a morrer, foram dias de sufoco, mas felizmente safou-se!

Só o tinha há um mês comigo e sofri bastante, por isso imagino como estás após 15 anos de convívio e amizade.

A mãe natureza é assim, dá-nos as coisas mas também as leva. No entanto, fica sempre um bocadinho connosco. E aquilo que fica é o que mais nos enriquece: sabedoria, alegria, amor....

Tenho a certeza que tens memórias maravilhosas e que até te rias das arranhadelas aos teus amigos.

Ela deve mesmo no céu dos miaus, podes: ouvi-la a ronronar nas ondas do mar... ouvi-la miar no vento forte... e vê-la correr cada vez que vires alguém a esconder-se atrás dum sofá ou duma porta.

O céu dos miaus é lindo porque os mantém sempre vivos dentro de nós.

Um ron-ron e uma arranhadela se me fizeres festinhas na barriga (o decker também não gosta)

Anónimo disse...

ha coisas na vida inexplicaveis.

criamos afeições com animais. seres irracionais..

mas será na verdade?
será q os (nossos) gatos (não)nos compreendem de facto?
será q (não) desabafamos com eles?
será q eles não ficam, de certa forma, tristes quando estamos em baixo?

comigo assim acontece! todos os dias da minha vida!

nasci, cresci, vivi e ainda vivo rodeado de gatos!

para mim também é um dia triste hoje!

a minha gata foi atropelada e morreu...

de certa forma um pouco de mim também se perdeu...

irreparavel???
só o tempo o dirá!